sábado, 29 de maio de 2010

Arquitetura Verde no Brasil

O Edifício Harmonia 57 - Admirável verde vivo



O projeto do edifício de escritórios Harmonia 57 em São Paulo se tornou um notório exemplar da boa arquitetura e da aplicação de metas sustentáveis atualmente.

Com soluções simples, técnicas vernáculas e uma tipologia que não desrespeita seu entorno, o edifício, despretensiosamente, vem conquistando a opinião de arquitetos, estudantes e até mesmo o premio ‘Naja’, dado pelo Ministério da Cultura Francês a jovens arquitetos. É definitivamente um novo olhar sobre a “arquitetura verde”.


Foto 1 – O edifício visto desde sua praça central.
Mas o que fazem de esse edifício sustentável, ‘verde’ e especial?

Esse artigo busca fazer um passeio pelo projeto através de fotos, revendo as técnicas e soluções criativas usadas pelos arquitetos. Já que uma boa forma de se entender a Sustentabilidade na arquitetura é analisar e estudar sua aplicação.

O edifício foi projetado pelo escritório de arquitetura Triptyque, formado por uma arquiteta brasileira e três arquitetos franceses. Os quatro, que foram colegas de faculdade, decidiram montar um escritório em São Paulo onde suas idéias seriam motivadas pelas inúmeras possibilidades de criação que a cidade oferece. Essa sociedade deu certo e já estão totalmente adaptados à forma de viver brasileira, o que transparece em todas as suas criações.

O ‘Harmonia 57’ está localizado na Vila Madalena, bairro de São Paulo conhecido por sua grande atividade cultural e boemia. Hoje muitos ateliês, centros de exposições, escolas de musica e teatro dão cara ao bairro.


Foto 2 – O edifício em meio a seu contexto paulistano.

O edifício vai mais além de que um elemento inerte inserido no meio da paisagem paulistana. Esse objeto é um organismo literalmente com vida, pois cresce e muda sua aparência. É justamente esse o conceito: “como um organismo vivo, o edifício respira, sua e se modifica transcendendo sua inércia”. Cada época do ano uma arquitetura diferente, que se transforma como um corpo orgânico. Uma mistura de arquitetura e arte, onde a funcionalidade, tão presente no projeto, brinca com as novas formas de intervir no espaço urbano.

Sua volumetria é bastante objetiva e clara: são 2 blocos interligados por rampas e decks. O primeiro é formado por um térreo e dois pavimentos (com um escritório de 85 m² e terraço cada um). O segundo bloco é formado por 3 pavimentos, e um pequeno estúdio de 40 m2 sobre ele (cada pavimento possui um escritório de 120 m² e terraço). Entre esses dois volumes, um térreo configura uma praça aberta e unida à rua, uma espécie de clareira entre esses dois volumes “vegetais”.


Foto 3 - Vista geral da volumetria do edifício.


Os blocos cortados por varandas, aberturas e vidros são ligados por passarelas e permeados por decks e uma praça, criando um jogo de atmosferas abertas e fechadas, íntimas e privadas, mas sempre naturais e vivas.

Foto 4 – Vista do interior de um dos escritórios


Foto 5 – Rampas, decks e uma praça de convívio comum interligam os blocos

Os materiais utilizados já são bastante conhecidos por nós, mas aplicados sempre de maneira inovadora, com técnicas que misturam o ‘vernáculo’ com o ‘contemporâneo’. Suas paredes são de cor cinza, de um concreto simples, intencionalmente deforme e esculpida para receber a cobertura de vegetação. Seus decks são de estrutura metálica com piso de madeira e os corrimões metálicos podem fazer a vez de encanamentos também. As janelas são planos de vidro protegidas por madeira com a forma pura de troncos de árvores. Essa estrutura por sua vez, tem a possibilidade de estar fechada ou abrir-se possibilitando vista à cidade.

Foto 6 – Concreto, aço, e madeira compõem de maneira inovadora a essência do edifício.

Foto 7 e Foto 8 – As janelas tem a possibilidade de proteção a sua privacidade ou se abrirem ao exterior.


Um “ser vivo”


O que permite toda a vivacidade de suas fachadas é o princípio de captação de água de chuvas. A ‘pele’ da estrutura são suas paredes externas, duplas e cobertas por uma espessa camada vegetal. Essa parede é feita de um concreto orgânico com poros preparados para receber essa vegetação, que cresce graças a seu bem pensado sistema de irrigação. A água é captada, passa por uma série de filtros até estar pura e pronta para ser guardada em reservatórios. A partir daí segue para ser distribuída e irrigada pelas tubulações que rodeiam todo o edifício, exibidos nas paredes exteriores como ‘veias’ e ‘artérias’ desse corpo vivo.

Foto 9 – Detalhe da irrigação proporcionada graças as tubulações que rodeia todo o edifício.
Foto 10 – A escolha das espécies foi determinada de acordo com o clima local e com o intuito de associar plantas com características distintas que podem se ajudar mutuamente e assim formar um ecossistema local.



A parede dupla coberta de vegetação e seu sistema de irrigação garantem o conforto térmico e acústico no interior do edifício. O sistema de captação e armazenamento de água de chuva garante até 90% de economia de água. Suas grandes aberturas e janelas estrategicamente localizadas permitem o aproveitamento da luz natural. Isso quer dizer: economia de energia e dinheiro com ar condicionado, luz e água.

Harmonia 57 incorpora características sustentáveis dialogando amistosamente com seu entorno cultural e natural. Preserva características locais, se faz uso de variáveis climáticas e preserva recursos naturais. Sua proposta não agride a tipologia local já que sua estética consegue ser selvagem e elegante ao mesmo tempo, chamando a atenção não por sua avidez e sim por sua simplicidade e inovação.

Está inserido em um meio onde os cenários culturais e laborais fervem, e está pronto para receber pessoas que querem trabalhar dentro de um organismo vivo e íntimo e que estão de acordo com as novas prioridades contemporâneas e às novas formas de habitar.

O desafio da ‘arquitetura verde’ foi cumprido de maneira excepcional e simples. Uma prova que construir sustentável não é sinônimo de tecnologia cara e inalcançável. Espaços abertos à sociedade, técnicas naturais, aproveitamento de água e luz natural, materiais regionais, usos e programas adequados e aproveitamento do terreno nos mostram que nesse edifício a Arquitetura Verde “nasce”, “vive”, “se modifica” e se faz presente.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nova York é exemplo de Arquitetura Verde

Arquitetos apostam em energia solar e reaproveitamento de esgoto para criar soluções que não destruam o meio ambiente.

Se o sonho dos arquitetos virar realidade, um edifício gigante em formato de libélula vai mudar para sempre a história de Nova York. Não só pela beleza.

O projeto Dragonfly é uma fazenda vertical de 132 andares, com espaço para criação de animais de pequeno porte, produção de frutas, verduras e plantas. A ideia é reconectar os moradores da selva de pedra com a vida rural, em um paraíso ecológico urbano que possa produzir 100% da energia que consome e, ao fornecer alimentos para os vizinhos evitar a poluição gerada hoje pelo transporte em caminhões que vêm de longe para abastecer a metrópole.

Enquanto o futuro não chega, esqueça o corre corre enfumaçado de Nova York e olhe para os jardins suspensos de um prédio que, de tão verde, foi batizado de “Visionário". Quando o sol ilumina o sul da Ilha de Manhattan, os moradores agradecem.

Painéis solares absorvem os raios e garantem 5% da energia do edifício. Os eletrodomésticos consomem pouco, as luzes se apagam sozinhas. O “Visionário” tem redução de 40% na conta de energia. O ar que circula pelos apartamentos logo é retirado do prédio por um poderoso sistema de exaustão.

"A intenção é manter o ar fresco. Você tem uma circulação constante de ar dentro e fora dos apartamentos, com uma qualidade de ar muito superior", explica o administrador do edifício Marc Klein.

Uma estação de esgoto permite o reaproveitamento de quase cem mil litros de água por dia. Assim, quando você lava as mãos, a água volta para o lugar de onde veio, é tratada e reutilizada. Por tudo isso, o edifício mereceu grau platina, o nível mais alto de certificação ambiental, de acordo com parâmetros adotados pelos Estados Unidos e outros 30 países.

Ao deitar, só resta aos moradores admirar uma belíssima fotografia do passado: uma cidade que ainda é mais cinza do que verde, mas que está sempre disposta a mudar.

A mudança não precisa ser necessariamente visível a olho nu. Afinal, ninguém pretende fazer cirurgia plástica nos arranha-céus de Nova York. Os arquitetos entenderam que a grande reforma não será no corpo, mas na alma, no interior dos edifícios. Mesmo que ele seja um gigante de 102 andares, a conclusão é que dá para pintar tudo de verde.

A intenção dos donos do edifício mais alto de Nova York, o Empire State, é trazer o prédio de quase 80 anos para os padrões do século 21. A reforma-verde do Empire State vai custar US$ 20e milhões, mas deve se pagar em cinco anos, com redução de 38% no consumo de energia.

Curioso é pensar que, há muito tempo, Nova York já foi uma cidade com arquitetura verde. Até que apareceu o ar-condicionado - uma invenção genial - que mudou completamente o desenho dos prédios, mas criou um problema.

"Os prédios foram fechados por completo e viraram enormes blocos de vidro. Agora estamos tentando retomar princípios que foram usados pelos arquitetos por séculos e séculos, como a posição em relação ao sol ou mesmo o uso de ventilação natural. Chegamos a um ponto em que essas preocupações já fazem parte da forma como pensamos. No futuro, não vamos precisar falar sobre arquitetura verde. Isso será tão óbvio que vai ser apenas arquitetura", aponta o arquiteto-chefe Craig Graber.

A nova Nova York já começa a surgir. Está quase pronto o prédio bilionário que vai servir de sede para o maior banco dos Estados Unidos. Serão produzidos quase cinco megawatts de energia. A estrutura do edifício vai reaproveitar a água da chuva e reutilizar toda a água usada no edifício. Um exemplo de que beleza, progresso e meio-ambiente podem habitar perfeitamente a mesma arquitetura. Mesmo nesse mar de concreto.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Prédio alemão "respira" para economizar energia

É arquitetura do século 21. O prédio tem persianas inteligentes que abrem e fecham de acordo com a incidência de luz e de calor.


Ülm, Alemanha

A catedral com a maior torre do mundo já não é mais a única atração diferente de Ülm - cidade que fica no coração da Alemanha.

Telhados transformados em jardins para manter a temperatura das casas estável no inverno e no verão, e árvores artificiais, com painéis solares, que em vez de folhas e frutos, dão energia agora também dominam a paisagem e fazem Ülm ser considerada uma das cidades mais ecológicas do planeta. Até o lendário Rio Danúbio cruza Ülm sem receber nenhum tipo de dejeto.

Mas a maior estrela ecotecnológica da cidade é um prédio de escritórios. Ele ocupa uma área do tamanho de quatro campos de futebol e é conhecido por ser o primeiro do mundo a respirar. O ''nariz'' é um conjunto de três tubos que brotam do chão. São captadores de ar.

No porão, antes de ser distribuído para todo prédio, o ar vindo da rua passa por dois condicionadores de temperatura computadorizados. O primeiro resfria. Funciona com a água que circula numa serpentina gigante instalada embaixo do prédio, a 100 metros de profundidade, onde a temperatura da terra está sempre ao redor de 10ºC.

O segundo condicionador de ar funciona com água aquecida pelos computadores e as outras máquinas que controlam todos os sistemas do prédio. O calor, captado por essas cápsulas especiais que envolvem os aparelhos, é transferido para uma espécie de caldeira que mantém a água acima de 30ºC.

Se o prédio respira, então podemos dizer que o pulmão dele é um grande espaço aberto, como um saguão, bem no meio do edifício. Uma área de lazer que também serve de acesso a todos os andares. O ar, aquecido no inverno ou resfriado no verão, chega por meio de gigantescos tubos. Esse mesmo ar, é distribuído para todos os ambientes. É como se os escritórios fossem órgãos de um corpo, que precisa de oxigênio para se manter vivo.

Os tubos que trazem o ar do ''nariz'' do prédio até o ''pulmão'' vão do chão até o topo. Todas as salas têm janelas para o saguão. Também têm entradas de ar no teto. É assim que o ar condicionado circula. Mas o prédio tem ainda janelas para o lado externo. Os inquilinos as chamam de ''olhos'', porque as persianas inteligentes funcionam como pálpebras: abrem e fecham de acordo com a incidência de luz e de calor.

Uma moça que trabalha no prédio diz que jamais viu algo tão ''humano'”. Parece até que o prédio tem vida, mesmo. O resultado é uma temperatura interna sempre ao redor de 22ºC.

O metro quadrado de área deste prédio custou quase o dobro de uma construção comum. Mas, segundo os responsáveis pelo projeto, o investimento a mais se paga só com a economia de energia.

“Por aproveitar ao máximo recursos naturais, esse prédio consome menos de 10% da energia gasta por um edifício convencional do mesmo tamanho”, afirma o engenheiro Günter Lindermann.

Soluções inteligentes, criatividade. Faz bem aqui dentro e também lá fora, na natureza.

Fonte: http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL1273885-16020,00-PREDIO+ALEMAO+RESPIRA+PARA+ECONOMIZAR+ENERGIA.html

terça-feira, 25 de maio de 2010

Arquitetura Verde para a cidade do futuro

Uma nova geração global de arquitetos constrói edifícios sustentáveis, que buscam reconectar os seres humanos com seus congêneres e com a natureza.



BERKELEY.- Nas nações industrializadas avançadas, passamos 90% de nossas vidas dentro de casa, com pouca ligação com o grande mundo ao ar livre. As modernas técnicas de construção têm nos protegido da “mãe natureza” - e de outras pessoas - mas à custa de nosso próprio bem-estar. Nem sempre foi assim. Basta ver como eram as cidades medievais da Europa ou as características da arquitetura dos povos indígenas para se dar conta de que em outros tempos as pessoas construíam com uma atitude muito mais amistosa em relação às outras pessoas e às espécies.

Então, por que tantas estruturas que construímos em décadas recentes freqüentemente parecem isolantes e desumanas? Por que também, às vezes, nos fazem ficar doentes? “Casas doentes”, construídas com materiais que contém substâncias tóxicas, são sintomas de uma estranha síndrome pela qual deixamos que os benefícios no curto prazo e as construções a preços menores se sobreponham à habitalidade e durabilidade no longo prazo. Grande parte do ambiente moderno fabricado pelo homem parece desenhado para negar toda relação com a natureza, ao mesmo tempo em que ignora a realidade contemporânea dos recursos limitados.

Em resposta a este problema está surgindo uma nova geração de arquitetos e projetistas, com uma visão e estratégia diferentes. Eles qualificam de “verde” seu modo de construir, chamam as casas que fazem de “edifícios sustentáveis” e estão estabelecendo novos parâmetros para a construção, baseados em princípios que tendem a unir os seres humanos com seus congêneres e a natureza.

Os edifícios verdes combinam o engenho e a eficiência do projeto de alta tecnologia com materiais de construção naturais como palha, pedra e barro ou argila. Também utilizam energia solar e eólica e projetos urbanísticos com áreas livres de automóveis, ruas de trânsito lento e praças espaçosas que envolvem as pessoas numa revitalizada vida social comum. Enquanto a maioria dos construtores verdes trabalha em escala modesta, alguns pretendem projetar de novo cidades inteiras segundo os princípios do “novo urbanismo” e, inclusive, estão fazendo isso.

Peter Calthorpe, um visionário arquiteto norte-americano, conduziu processos coletivos de projeto público para as cidades de Chicago e Los Angeles e todo o Estado de Utah. Ao argumentar que não é necessário reconstruir completamente uma cidade, ele defende “ o preenchimento” dos espaços vazios em áreas urbanas deprimidas, em favor do projeto para usos e ingressos mistos que impulsionem a interação social entre classes e etnias, e que diminuam o tráfego local para criar “bairros nos quais se possa caminhar”. A cidade de Curitiba, projetada de novo durante as últimas décadas pelo prefeito Jaime Lerner e uma equipe de arquitetos urbanistas, demonstrou como os sistemas inteligentes de transporte urbano podem catalisar uma revitalização da cidade.

Entretanto, os desafios enfrentados pelos arquitetos urbanistas no mundo em desenvolvimento são maiores do que no mundo industrializado. A pobreza, o desemprego, a emigração para cidades já superpovoadas e os inadequados serviços públicos combinam-se em supercidades como São Paulo, Cairo, Manila e Lagos, para criar vastos bairros marginalizados sem serviços de água, eletricidade e esgoto, bem como sem possibilidades de emprego, educação e cuidados com a saúde. Com milhões de pessoas sem casa e dezenas de milhões que vivem em barracos feitos com papelão e lata, os arquitetos urbanistas se inclinam menos por projetos de alta tecnologia do que por materiais tradicionais e fáceis de conseguir, como adobe e palha, que têm servido eficazmente durante milhares de anos.

O movimento pós-moderno por moradias sustentáveis coloca a conservação dos recursos e a reconexão entre as pessoas e a natureza acima do isolamento privilegiado e do lucro privado. Contudo, para que seja adotado amplamente também deverá resolver a questão central, isto é, a necessidade de dar maior peso aos benefícios sociais e ambientais. Os arquitetos urbanistas enfrentam uma tarefa essencial, de levar, nas próximas décadas, os projetos verdes além do negócio da construção sofisticada.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

FeNEA

Carta de definição para Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo



O Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo - EMAU - é um projeto conceituado e fomentado pela FeNEA - Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Ele visa a melhoria da educação e da formação profissional através da vivência social e da experiência teórico-prática como um todo.

A extensão, assim como o ensino e a pesquisa, é fundamental para a formação profissional, pois é um instrumento de interação do meio acadêmico com a sociedade, tendo como princípio básico contribuir para o desenvolvimento desta, através da aplicação do conhecimento gerado e adquirido na universidade. Afirma, ainda, o compromisso da universidade com o desenvolvimento do saber. Neste sentido o EMAU é uma experiência de troca, na qual os estudantes levam às comunidades os conhecimentos específicos de arquitetura e urbanismo, e retornam à comunidade acadêmica o conhecimento adquirido em suas atividades.

O EMAU é uma iniciativa estudantil e não deve ser instrumento das universidades para suprir deficiências acadêmicas, mas sim como um complemento à formação profissional. Todo EMAU possui sua própria dinâmica de trabalho a partir de sua realidade acadêmica e regional, no entanto todos devem respeitar alguns princípios para que sejam considerados escritórios modelo. O eixo norteador ético destes princípios são os quatro postulados da UNESCO e União Internacional de Arquitetos para educação em Arquitetura e Urbanismo:

- Garantir qualidade de vida digna para todos os habitantes dos assentamentos;

- Uso tecnológico que respeite as necessidades sociais, culturais e estéticas dos povos;

- Equilíbrio ecológico e desenvolvimento sustentável do ambiente construído;

- Arquitetura valorizada como patrimônio e responsabilidade de todos.

Sendo seus princípios os itens a seguir:

- Gestão Estudantil - O escritório modelo deve ter autonomia quanto à escolha de projetos e de orientador e é livre a participação de todos os estudantes interessados de sua faculdade. Por isso, torna-se um espaço para o desenvolvimento crítico e reflexivo da atuação e formação profissional.

- Horizontalidade nas tomadas de decisão - Buscar o consenso entre todos os envolvidos no processo, não havendo peso diferenciado entre os participantes. Vale ressaltar que o orientador não é um membro superior aos demais no EMAU e tem igual direito a voz, para incentivar a capacidade de gestão dos estudantes.

- Coletividade - Incentivar e desenvolver o trabalho participativo dentro e fora da universidade, não se restringindo à discussão, mas também promovendo a ação, bem como a troca entre as partes envolvidas. O EMAU, além de ter livre a participação para todos os estudantes de arquitetura e urbanismo, é livre para outros interessados, sendo um espaço de debate aberto a toda a sociedade. Isso garante um processo projetual participativo, promovendo a mobilização social.

- Multidisciplinaridade - Buscar todos os campos do conhecimento, científico e empírico, que possam contribuir para o desenvolvimento dos projetos realizados. O contato pode acontecer por iniciativa do próprio escritório ou da outra parte interessada.

- Não-assistencialista - O trabalho deve ser realizado com comunidades organizadas, elaborado e executado em parceria com a mesma, de forma que esta dê continuidade ao projeto após o afastamento do EMAU.

- Atuação nos locais não alcançados pelo profissional arquiteto - O escritório deve trabalhar com comunidades que não possam ter acesso ao trabalho profissional de arquitetura e urbanismo. A escolha dos locais pretende ainda difundir a atividade da arquitetura e urbanismo, buscando a ampliação da atuação do profissional através da disseminação da consciência do arquiteto e de toda a população.

- Sem fins lucrativos - O escritório modelo não tem fins lucrativos, no entanto, permite o recebimento de bolsa da faculdade por parte dos estudantes. É possível também firmar parcerias com entidades externas, desde que não firam nenhum dos outros princípios aqui presentes, principalmente no que diz respeito à autonomia do escritório modelo e o foco principal na extensão de cunho social. É importante frisar que estas parcerias devem ser buscadas preferencialmente através da comunidade envolvida. A responsabilidade técnica sobre os projetos elaborados pelos EMAUs segue legislação reguladora dos exercícios das profissões, sendo assinados pelo orientador do escritório.

O Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo – POEMA - é desenvolvido pela FeNEA e está disponível para download no site da Federação: www.fenea.org. Ele visa orientar, caracterizar e estimular a criação e manutenção dos EMAUs, através da definição conceitual, dos princípios éticos e dos históricos de EMAUs existentes.   Saiba mais

Documento elaborado durante o XXXI ENEA (Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo) em Florianópolis, de 22 a 29 de julho de 2007, promovido pela FeNEA (Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil), e homologado em plenária final.

domingo, 23 de maio de 2010

Entrevista com OSCAR NIEMEYER

OSCAR NIEMEYER




O jornal inglês Daily Telegraph concedeu ao nosso personagem um título pomposo, num artigo publicado no ano passado :

Oscar Niemeyer é o “último grande arquiteto modernista visionário”.

O Oscar Niemeyer que aparece nas enciclopédias pode ser descrito como um gigante da arquitetura mas, pessoalmente,exala uma certa fragilidade.É baixo.Fala com voz contida.Declara-se olimpicamente desinteressado das glórias terrenas. É provável que a alegada modéstia esconda,na verdade,uma ponta de justificada vaidade. Arquitetos desenham casas,prédios,praças.

Niemeyer concebeu uma cidade :

- "Quando chego perto de Brasília, parece um milagre.Fico pensando que seria quase impossível Juscelino ter feito aquela obra toda em três anos e meio. Hoje,para fazer um dez edifícios, levam-se três anos. Em Brasília,era preciso fazer tudo : uma cidade inteira. Aquilo foi uma cruzada que mostrou que nós,brasileiros,podemos fazer alguma coisa. Brasília foi um momento importante para o povo brasileiro".

Quando recita sobre Brasília, Niemeyer parece encarnar o título de “visionário”. Uma longa entrevista com Niemeyer,no escritório em que trabalha até hoje,pode trazer surpresas. Comunista renitente, recusa-se a aceitar o fim inexorável da União Soviética. Corre o risco de segurar o bastão de último comunista incondicional do planeta. Gilberto Freyre disse uma vez que Niemeyer,arquiteto genial,era um homem ignorante porque vivia repetindo palavras de ordem marxistas (Niemeyer dá,nesta entrevista, uma resposta mineira quando confrontado com a crítica) . A bem da verdade,diga-se que Niemeyer não é cem por cento previsível em suas declarações de princípios. Exemplo : é um pessimista que,contraditoriamente,gosta de falar em esperança. Um diálogo com ele pode ser rico e surpreendente. O ateu Niemeyer emociona-se ao descobrir,através de um amigo cientista, que o Homem e as estrelas são feitos da mesma matéria. Nem tudo é amargor na cartilha do mais célebre dos arquitetos brasileiros. Pelo contrário. Aos noventa e três anos, é um apóstolo devotado da seita dos que nunca deixaram de acreditar nesta utopia de seis letras chamada Brasil.

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O senhor transmite uma visão pessimista da vida - um certo enfado diante das coisas.Como é que se justifica tanto pessimismo num homem tão bem sucedido ?

Niemeyer : “Sou pessimista diante da idéia de que o homem ,quando nasce,já começa a morrer,como notou Jean Paul Sartre.Mas,na vida,caminhamos rindo e chorando o tempo todo : é preciso,então,aproveitar o lado bom da vida,usufruir o melhor possível e aceitar os outros como eles são.Sempre digo : o importante é o homem sentir como é insignificante,é o homem olhar para o céu e ver como somos pequeninos. Ultimamente, no entanto ,tenho me espantado como a inteligência do homem é fantástica ! Tenho conversado sobre astronomia.Como é imprevisível o que ele pode criar ! . Numa dessas conversas que tenho tido com um amigo sobre o cosmo, ele me explicou que o homem é filho das estrelas.A matéria é a mesma ! Então, é mais emocionante ser filho das estrelas do que ser filho da terra. Eu sempre dizia que a vida não teria sentido,o homem é filho da terra, como os outros bichos,os outros animais. Mas acho que o futuro será melhor.

Os mais inteligentes se queixam do mundo.Acham que o mundo tem prazeres e alegrias,mas a razão de a gente estar aqui é precária.Em todo caso,ninguém quer abandonar o espetáculo.

Entre os homens, a maioria é formada pelos que lutam,os que estão sofrendo,os que são humilhados. O drama do ser humano é ver o homem nascer e morrer. Ninguém quer nem pensar sobre este assunto. Os mais ricos estão se divertindo. Não querem pensar em nada : só querem usufruir as boas coisas da vida. Os outros nem têm nem tempo para conseguir viver um pouco”.

O senhor sempre disse que via o homem como um bicho “terreno,biológico,sem mistérios”. Depois dos noventa anos de idade,esta visão de mundo mudou de alguma maneira ?

Oscar Niemeyer : “A visão do mundo,não . O pessimismo é coisa antiga – antiquíssima- que,no entanto,não leva ao niilismo. Jean Paul Sarte era pessimista : dizia que toda existência é um fracasso. Mas ele gostava da vida. Apoiou todos os movimentos populares e progressistas de libertação. Dizia aos amigos que gostava de ter dinheiro no bolso pra dar de esmola. Então, uma coisa - o pessimismo- não tem a ver com a outra - o niilismo. O que acho –sempre - é que o homem tem de viver dentro da verdade, saber que não é importante. A disseminação dessa crenca levaria o homem a uma posição mais modesta. Porque o homem precisa saber que a vida é curta mesmo. Isso não quer dizer,no entanto, que a vida deva ser marcada pelo niilismo. Não ! O homem continua a sonhar, a pensar nas coisas boas - de braços dados uns com os outros”.

Se o senhor fosse chamado a escrever um verbete sobre Oscar Niemeyer numa enciclopédia, qual seria a primeira frase ?

Niemeyer : “Eu diria que é um ser humano como outro qualquer - que nasceu,viveu e morreu. Sou um homem comum – que trabalhou como todos os outros.Passou a vida debruçado sobre uma prancheta.Interessou-se pelos mais pobres. Amou os amigos e a família. Nada de especial .Não tenho nada de extraordinário.Acho ridículo esse negocio de se dar importância.Eu consegui manter,a respeito dos homens, uma posição que me tranquiliza muito : vejo os homens como uma casa,em que você pode consertar as janelas,acertar o aprumo das paredes,pintar.Mas,se o projeto inicial foi ruim,fica prejudicado. Aceito as pessoas como elas são. Todo mundo tem um lado bom e um lado ruim. O homem nasce numa loteria : é bom,é ruim,é inteligente ou não. Se a gente aceita este fato como uma condição inevitável,a gente tem de ser mais paciente com as pessoas,aceitá-las como elas são”.

O senhor escreveu : "Sempre admiramos as pessoas que são o que nós gostaríamos de ser" .Quem é que o senhor gostaria de ser hoje ?

Niemeyer : “Não vou citar ninguém.Mas gostaria de ser um sujeito normal - que tem prazer de ser útil e ajudar os mais pobres.É o mais importante na vida”.

O seu medo de viajar de avião é famoso.A que grande encontro o senhor faltou por ter medo de viajar de avião ?

Niemeyer : “Eu tinha combinado com Assis Chateaubriand de me encontrar com ele em Pernambuco . Ele foi na frente,eu iria depois.Mas ele foi -e eu não. Quando ele se encontrou comigo,dias depois,disse : " Você agiu como um verdadeiro comunista !" . Mas ele gostava de mim; nos dávamos bem. O medo de viajar de avião me atrapalhou muito.Um dia,eu estava em Brasília, JK me telefonou para que eu viesse com ele de avião para o Rio de Janeiro.Não vim. Viajei de automóvel. Houve,então,um acidente com o carro em que eu viajava. Passei quinze dias no hospital. O medo de avião não vem de nenhum raciocínio . É coisa minha mesmo. Não viajo quando não quero. Mas muitas vezes invento essa historia de medo de avião,,porque não quero viajar”.

O senhor disse que tinha uma certo " sentimento de culpa" por ter tanto medo de avião .É verdade ?

Niemeyer : “...Mas eu não gosto desse negócio de altura ! Tantas vezes voltei do caminho....Deixei de viajar.Uma vez,eu estava na Argélia.Quando chegou a hora de o avião sair - eu já tinha posto aquele balinha na boca - , eu disse : “Não vou !” . Peguei o meu colega e saí. Isso criou uma dificuldade,porque a mala já estava no avião. Mas viajei muito. Já embarquei três vezes num Concorde ! É um sistema pra prático - que a gente tem de aceitar”.

O senhor se lembra quando foi a primeira vez em que Juscelino Kubitscheck falou ao senhor sobre o sonho de construir Brasília ?

Niemeyer : “Eu me dei com Juscelino desde o primeiro dia .O primeiro trabalho que fiz como arquiteto foi a Pampulha- a primeira obra que ele construiu.Pampulha, então, foi o início de Brasília : a mesma pressa, a mesma correria,os mesmos problemas econômicos para fazer a obra.Quando veio a idéia de Brasília, JK foi à minha casa,nas Canoas,no Rio. Descemos junto para a cidade. Juscelino vinha dizendo : " Oscar,vou fazer Brasília !.Vai ser a capital mais bonita do mundo !" .

O senhor tem alguma dúvida sobre as circunstâncias da morte de JK ?

Oscar Niemeyer : ”Não.Nenhuma.Acho que foi um acidente”.

Qual foi o último encontro entre os dois ?

Niemeyer : “Quando Juscelino estava em Paris,estive com ele. Eu ia ao apartamento em que ele vivia.Juscelino foi uma pessoa muito importante para a vida brasileira. A construção de Brasília foi um momento de otimismo e de esperança. Brasilia foi aquele luta : a terra vazia, tudo por começar,sem estrada,sem conforto.Mas havia entusiasmo.Havia pressão de Juscelino e de Israel Pinheiro.A meta era : terminar de qualquer maneira. O prazo foi cumprido. Brasília foi um momento estranho : vivíamos junto aos operários,freqüentávamos as mesmas coisas,as mesmas boates,com a mesma roupa.Aquilo dava uma idéia de que o mundo estava evoluindo,o tempo estava melhorando.Iria desaparecer aquele barreira de classes.Mas era um sonho.Depois,vieram os políticos,vieram os homens do dinheiro.Tudo recomeçou : essa injustiça imensa,tão difícil de reparar”.

O poeta Joaquim Cardoso vivia dizendo ao senhor que era importante visitar os observatórios para estudar o céu.É esse o motivo que o levou a se interessar por astronomia ?

Niemeyer : “ Tenho conversado,no meu escritório,com um cientista que vem falar sobre o cosmo. É um assunto que interessa a gente- principalmente quando a conversa se encaminha para a esperança e a invenção . A gente vê como tudo é

possível ! O homem ,que parece insignificante, tão pequenino quando visto do céu, na verdade é o único elemento de inteligência no universo. Tudo é possível, então ! A gente lembra de

que há cinquenta anos não existia televisão. Agora , a gente já admite a transposição da matéria ou que o homem possa viajar entre as estrelas. Pode até habitar outros planetas. Um mundo novo vem surgindo. E é fantástico”.

O senhor,que é um homem sem crença religiosa,em algum momento teve a tentação de acreditar em Deus ?

Niemeyer : “Venho de uma família católica - que veio de Maricá, eram fazendeiros. O meu avô foi do Supremo Tribunal. Tínhamos missa em casa,com a presença de vizinhos. Mas,quando saí para a vida,superei tudo isso.Vi que o mundo era injusto. Não acredito em nada. Acredito na natureza : tudo começou não se sabe quando nem como. Eu bem que gostaria de acreditar em Deus.Mas não.Sou pessimista diante da vida e do homem”.

O que o levou a não acreditar em Deus foi essa constatação de que o mundo era injusto ?

Niemeyer : “ O mundo é injusto,sem perspectiva.A indagação que a gente faz os pintores antigos já escreviam nos quadros : “De onde viemos ? O que somos ? Para onde vamos ?”. Quando eu era pequeno – tinha uns quatorze anos - já pensava na morte. Ficava meio desesperado quando pensava que o sujeito vai desaparecer, não vai pensar mais nada. Mas a vida é assim : o que a gente deve é procurar procurar ser útil e dar as mãos”.

O senhor uma vez escreveu "minha posição diante do mundo é de invariável revolta" .Onde é que nasceu esse sentimento ?

Niemeyer : “Veio da miséria que nos cerca.Ninguém resolve. É uma luta de milhares de anos : a gente vê os mais ricos usufuindo tudo. Quando faço um projeto de um prédio público - por exmeplo- procuro fazer algo bonito. Primeiro,porque esse é o caminho da arquitetura. Eu sei que os mais pobres não vão usufruir nada desse edifício, mas sei que, se o edifício for bonito, os pobres vão parar e ter um momento de espanto e alegria ao ver uma coisa diferente”.

O senhor não vive na casa que o senhor projetou. Por que é que o homem Oscar Niemeyer não vive na casa que o arquiteto Oscar Niemeyer ?

Niemeyer : “Eu gostaria. Vivi lá dez anos. Lá , JK foi me procurar. Mas é longe,num lugar um pouco deserto. Nesse clima em que vivemos - com assaltos e insegurança – o pessoal prefere ficar mais no centro.A casa ficou vazia. Quase todo dia vem visitante para vê-la. Eu mantenho a casa porque é um bom exemplo de arquitetura, o lugar é bonito”.

O senhor - que gosta de futebol - participou do concurso para escolha do projeto para a construção do estádio do Maracanã . Como seria o Maracanã de Oscar Niemeyer ?

Niemeyer : “O meu estádio seria pior. Naquele tempo,a idéia que tínhamos de arquitetura em relação a estádio de futebol era fazer uma única arquibancada do lado em que o sol não batesse na cara do espectador. Depois,ao começar a frequentar estádios,vi como era importante existir arquibancada também do outro lado. O sujeito vê o campo , vê o jogo,mas precisa ver também a alegria do estádio ! Então,um estádio circular,como o Maracanã,é a solução melhor. Passaram-se alguns, eu estava na casa de Maria Martins,em Petrópolis, quando chegou Getúlio Vargas,a quem eu nunca tinha encontrado.

Getúlio olhou para mim e disse : " Se eu tivesse ficado no governo,teria feito o seu estádio" .Tive vontade de dizer : " Era ruim. O outro projeto era melhor" .

É verdade que o senhor projetou uma casa para o seu motorista numa favela no Rio ?

Niemeyer : “O meu motorista mora na favela da Rocinha,em São Conrado.É um amigo : trabalha comigo há quarenta anos.Fiz uma casa para ele lá,porque me dá prazer ser útil. A gente se sente mais tranqüila quando colabora. O fato de comprar um apartamento para Luís Carlos Prestes também me agradou (N:Niemeyer deu de presente um apartamento ao líder comunista,na rua das Acácias,na Gávea,zona sul do Rio).

É como encontrar com uma pessoa na rua e dar dinheiro.De vez em quando,um colega me diz : “É besteira,não adianta nada”. Ora,eu sei que não adianta,mas estou dando um momento de alegria para a pessoa.Não importa que ela vá usar o dinheiro para beber”.

Em termos arquitetônicos,qual foi a preocupação que o senhor teve ao desenhar a casa para o motorista,na favela ?

Niemeyer : “Ser útil ! Saber que ele agora tem um teto.O problema brasileiro é esse. O movimento que nos entusiasma hoje no Brasil é a luta pela reforma agrária. O mais impoirtante no momento é o movimento do sem-terra. Quando o movimento começou, fiz uma espécie de estandarte para eles. Mas,já na primeira briga, o estandarte foi estraçalhado. Os integrantes do movimento vieram ao meu escritório, fizeram um pequeno comício. Isso entusiasma a gente : mexer no mundo,mudar um pouco,acabar com essa miséria”.

Todo mundo tem um museu imaginário na cabeça. Qual é a grande obra do museu imaginário de Oscar Niemeyer ?

Niemeyer : “Sempre digo que a arquitetura não é o mais importante para mim. O importante é a vida, os amigos. Mas a grande obra é aquela em que a gente sente um momento de esperança,como aconteceu em Brasília. A gente achava que o mundo iria mudar ; o preconceito de classe iria desaparecer . Momentos de esperança é que são importantes”.

Quais serão os próximos projetos ?


Niemeyer : “Fiz um projeto que me interessou para Londres : um hotel situado a cem metros de altura. Aqui no Brasil, tenho dois projetos que me ocupam com todo interesse : o Centro Cultural de Brasília,que o governador Roriz pensa em

realizar,para completar o eixo monumental.É importante para Brasília porque o cartão de visita da cidade é chegar e ver os palácios- o Eixo Monumental. O projeto para a Prefeitura de Niterói é ambicioso,com igreja,catedral,teatro. O terreno fica de frente para o mar : é bonito,um espetáculo de arquitetura. Os prédios vão ter uma unidade.

Quando a arquitetura é bem feita, é facil de compreeender.A arquitetura é verdadeira quando é fácil. A minha arquitetura é assim : feita com a preocupação da beleza . Quer ser bonita, ser lógica e,princiupaslmente,ser inventiva. Quem vai a Brasília pode gostar ou não do Palácio.Mas não pode dizer é que viu antes coisa parecida.

Quem é que fez um Congresso com aquelas cúpulas ? Quem é que fez as colunas do Palácio do Planalto ? Aquilo é invenção,é arquitetura”.

O senhor nunca abriu mão do sentimento de beleza na arquitetura ?

Niemeyer : “O caminho da arquitetura é esse : a arquitetura tem de ser bonita. Se é mais justa,é ainda melhor. A arquitetura que faço é livre - de acordo com o clima do país -,um pouco ligada às velhas igrejas de Minas Gerais,numa relação com o passado.Mas é discriminatória,o que é outro problema.Se a gente quiser fazer uma arquitetura que chegue ao povo,não é um problema de arquitetura : é um problema de revolução. Porque é verdade que só os ricos é que usufruem”.

Em que momento das vida o senhor adquiriu a certeza de que a arquitetura precisa ser bonita – e não apenas funcional ?

Niemeyer : “Tive pouca influência de Corbusier. Mas fui influenciado por ele no dia em que ele me disse : arquitetura é invenção. Eu saí procurando esse caráter inventivo da arquitetura. Quando eu me lembro da Pampulha ou de Brasília,vejo que eu fazia as formas mais diferentes.Perguntaram a mim o que significava.Eu tinha de ficar dando explicações. É como digo : os mais pobres não usufruem. Mas,quando a arquitetura é bonita, os pobres podem parar e ter aquele momento de prazer ao ver algo diferente”.

O senhor hoje mudaria a concepção dos Palácios de Brasília ?

Niemeyer : “Não. Naquele momento,foi o que me ocorreu: eu quis fazer uma arquitetura mais leve,os prédios como se estivessem apenas tocando chão.Joaquim Cardoso entendia e se esmerava,para fazer o mais fino possível. Quando fui para a Europa,eu já estava preocupado com a engenharia do meu país,para mostrar que nós não somos bobos. A gente sabe das coisas”.

Diante de suas obras obras,Darcy Ribeiro disse que que o senhor é o único brasileiro que será lembrado daqui a quinhentos anos.O senhor concorda ?

Niemeyer : “Darcy Ribeiro era amigo.E os amigos dizem tudo”.

O senhor conseguiria definir o Brasil numa só palavra ?

Niemeyer : “Esperança. É o que a gente tem de ter”.

(2000)