terça-feira, 25 de maio de 2010

Arquitetura Verde para a cidade do futuro

Uma nova geração global de arquitetos constrói edifícios sustentáveis, que buscam reconectar os seres humanos com seus congêneres e com a natureza.



BERKELEY.- Nas nações industrializadas avançadas, passamos 90% de nossas vidas dentro de casa, com pouca ligação com o grande mundo ao ar livre. As modernas técnicas de construção têm nos protegido da “mãe natureza” - e de outras pessoas - mas à custa de nosso próprio bem-estar. Nem sempre foi assim. Basta ver como eram as cidades medievais da Europa ou as características da arquitetura dos povos indígenas para se dar conta de que em outros tempos as pessoas construíam com uma atitude muito mais amistosa em relação às outras pessoas e às espécies.

Então, por que tantas estruturas que construímos em décadas recentes freqüentemente parecem isolantes e desumanas? Por que também, às vezes, nos fazem ficar doentes? “Casas doentes”, construídas com materiais que contém substâncias tóxicas, são sintomas de uma estranha síndrome pela qual deixamos que os benefícios no curto prazo e as construções a preços menores se sobreponham à habitalidade e durabilidade no longo prazo. Grande parte do ambiente moderno fabricado pelo homem parece desenhado para negar toda relação com a natureza, ao mesmo tempo em que ignora a realidade contemporânea dos recursos limitados.

Em resposta a este problema está surgindo uma nova geração de arquitetos e projetistas, com uma visão e estratégia diferentes. Eles qualificam de “verde” seu modo de construir, chamam as casas que fazem de “edifícios sustentáveis” e estão estabelecendo novos parâmetros para a construção, baseados em princípios que tendem a unir os seres humanos com seus congêneres e a natureza.

Os edifícios verdes combinam o engenho e a eficiência do projeto de alta tecnologia com materiais de construção naturais como palha, pedra e barro ou argila. Também utilizam energia solar e eólica e projetos urbanísticos com áreas livres de automóveis, ruas de trânsito lento e praças espaçosas que envolvem as pessoas numa revitalizada vida social comum. Enquanto a maioria dos construtores verdes trabalha em escala modesta, alguns pretendem projetar de novo cidades inteiras segundo os princípios do “novo urbanismo” e, inclusive, estão fazendo isso.

Peter Calthorpe, um visionário arquiteto norte-americano, conduziu processos coletivos de projeto público para as cidades de Chicago e Los Angeles e todo o Estado de Utah. Ao argumentar que não é necessário reconstruir completamente uma cidade, ele defende “ o preenchimento” dos espaços vazios em áreas urbanas deprimidas, em favor do projeto para usos e ingressos mistos que impulsionem a interação social entre classes e etnias, e que diminuam o tráfego local para criar “bairros nos quais se possa caminhar”. A cidade de Curitiba, projetada de novo durante as últimas décadas pelo prefeito Jaime Lerner e uma equipe de arquitetos urbanistas, demonstrou como os sistemas inteligentes de transporte urbano podem catalisar uma revitalização da cidade.

Entretanto, os desafios enfrentados pelos arquitetos urbanistas no mundo em desenvolvimento são maiores do que no mundo industrializado. A pobreza, o desemprego, a emigração para cidades já superpovoadas e os inadequados serviços públicos combinam-se em supercidades como São Paulo, Cairo, Manila e Lagos, para criar vastos bairros marginalizados sem serviços de água, eletricidade e esgoto, bem como sem possibilidades de emprego, educação e cuidados com a saúde. Com milhões de pessoas sem casa e dezenas de milhões que vivem em barracos feitos com papelão e lata, os arquitetos urbanistas se inclinam menos por projetos de alta tecnologia do que por materiais tradicionais e fáceis de conseguir, como adobe e palha, que têm servido eficazmente durante milhares de anos.

O movimento pós-moderno por moradias sustentáveis coloca a conservação dos recursos e a reconexão entre as pessoas e a natureza acima do isolamento privilegiado e do lucro privado. Contudo, para que seja adotado amplamente também deverá resolver a questão central, isto é, a necessidade de dar maior peso aos benefícios sociais e ambientais. Os arquitetos urbanistas enfrentam uma tarefa essencial, de levar, nas próximas décadas, os projetos verdes além do negócio da construção sofisticada.

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