sábado, 29 de maio de 2010

Arquitetura Verde no Brasil

O Edifício Harmonia 57 - Admirável verde vivo



O projeto do edifício de escritórios Harmonia 57 em São Paulo se tornou um notório exemplar da boa arquitetura e da aplicação de metas sustentáveis atualmente.

Com soluções simples, técnicas vernáculas e uma tipologia que não desrespeita seu entorno, o edifício, despretensiosamente, vem conquistando a opinião de arquitetos, estudantes e até mesmo o premio ‘Naja’, dado pelo Ministério da Cultura Francês a jovens arquitetos. É definitivamente um novo olhar sobre a “arquitetura verde”.


Foto 1 – O edifício visto desde sua praça central.
Mas o que fazem de esse edifício sustentável, ‘verde’ e especial?

Esse artigo busca fazer um passeio pelo projeto através de fotos, revendo as técnicas e soluções criativas usadas pelos arquitetos. Já que uma boa forma de se entender a Sustentabilidade na arquitetura é analisar e estudar sua aplicação.

O edifício foi projetado pelo escritório de arquitetura Triptyque, formado por uma arquiteta brasileira e três arquitetos franceses. Os quatro, que foram colegas de faculdade, decidiram montar um escritório em São Paulo onde suas idéias seriam motivadas pelas inúmeras possibilidades de criação que a cidade oferece. Essa sociedade deu certo e já estão totalmente adaptados à forma de viver brasileira, o que transparece em todas as suas criações.

O ‘Harmonia 57’ está localizado na Vila Madalena, bairro de São Paulo conhecido por sua grande atividade cultural e boemia. Hoje muitos ateliês, centros de exposições, escolas de musica e teatro dão cara ao bairro.


Foto 2 – O edifício em meio a seu contexto paulistano.

O edifício vai mais além de que um elemento inerte inserido no meio da paisagem paulistana. Esse objeto é um organismo literalmente com vida, pois cresce e muda sua aparência. É justamente esse o conceito: “como um organismo vivo, o edifício respira, sua e se modifica transcendendo sua inércia”. Cada época do ano uma arquitetura diferente, que se transforma como um corpo orgânico. Uma mistura de arquitetura e arte, onde a funcionalidade, tão presente no projeto, brinca com as novas formas de intervir no espaço urbano.

Sua volumetria é bastante objetiva e clara: são 2 blocos interligados por rampas e decks. O primeiro é formado por um térreo e dois pavimentos (com um escritório de 85 m² e terraço cada um). O segundo bloco é formado por 3 pavimentos, e um pequeno estúdio de 40 m2 sobre ele (cada pavimento possui um escritório de 120 m² e terraço). Entre esses dois volumes, um térreo configura uma praça aberta e unida à rua, uma espécie de clareira entre esses dois volumes “vegetais”.


Foto 3 - Vista geral da volumetria do edifício.


Os blocos cortados por varandas, aberturas e vidros são ligados por passarelas e permeados por decks e uma praça, criando um jogo de atmosferas abertas e fechadas, íntimas e privadas, mas sempre naturais e vivas.

Foto 4 – Vista do interior de um dos escritórios


Foto 5 – Rampas, decks e uma praça de convívio comum interligam os blocos

Os materiais utilizados já são bastante conhecidos por nós, mas aplicados sempre de maneira inovadora, com técnicas que misturam o ‘vernáculo’ com o ‘contemporâneo’. Suas paredes são de cor cinza, de um concreto simples, intencionalmente deforme e esculpida para receber a cobertura de vegetação. Seus decks são de estrutura metálica com piso de madeira e os corrimões metálicos podem fazer a vez de encanamentos também. As janelas são planos de vidro protegidas por madeira com a forma pura de troncos de árvores. Essa estrutura por sua vez, tem a possibilidade de estar fechada ou abrir-se possibilitando vista à cidade.

Foto 6 – Concreto, aço, e madeira compõem de maneira inovadora a essência do edifício.

Foto 7 e Foto 8 – As janelas tem a possibilidade de proteção a sua privacidade ou se abrirem ao exterior.


Um “ser vivo”


O que permite toda a vivacidade de suas fachadas é o princípio de captação de água de chuvas. A ‘pele’ da estrutura são suas paredes externas, duplas e cobertas por uma espessa camada vegetal. Essa parede é feita de um concreto orgânico com poros preparados para receber essa vegetação, que cresce graças a seu bem pensado sistema de irrigação. A água é captada, passa por uma série de filtros até estar pura e pronta para ser guardada em reservatórios. A partir daí segue para ser distribuída e irrigada pelas tubulações que rodeiam todo o edifício, exibidos nas paredes exteriores como ‘veias’ e ‘artérias’ desse corpo vivo.

Foto 9 – Detalhe da irrigação proporcionada graças as tubulações que rodeia todo o edifício.
Foto 10 – A escolha das espécies foi determinada de acordo com o clima local e com o intuito de associar plantas com características distintas que podem se ajudar mutuamente e assim formar um ecossistema local.



A parede dupla coberta de vegetação e seu sistema de irrigação garantem o conforto térmico e acústico no interior do edifício. O sistema de captação e armazenamento de água de chuva garante até 90% de economia de água. Suas grandes aberturas e janelas estrategicamente localizadas permitem o aproveitamento da luz natural. Isso quer dizer: economia de energia e dinheiro com ar condicionado, luz e água.

Harmonia 57 incorpora características sustentáveis dialogando amistosamente com seu entorno cultural e natural. Preserva características locais, se faz uso de variáveis climáticas e preserva recursos naturais. Sua proposta não agride a tipologia local já que sua estética consegue ser selvagem e elegante ao mesmo tempo, chamando a atenção não por sua avidez e sim por sua simplicidade e inovação.

Está inserido em um meio onde os cenários culturais e laborais fervem, e está pronto para receber pessoas que querem trabalhar dentro de um organismo vivo e íntimo e que estão de acordo com as novas prioridades contemporâneas e às novas formas de habitar.

O desafio da ‘arquitetura verde’ foi cumprido de maneira excepcional e simples. Uma prova que construir sustentável não é sinônimo de tecnologia cara e inalcançável. Espaços abertos à sociedade, técnicas naturais, aproveitamento de água e luz natural, materiais regionais, usos e programas adequados e aproveitamento do terreno nos mostram que nesse edifício a Arquitetura Verde “nasce”, “vive”, “se modifica” e se faz presente.

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